sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Pedro Malasartes foi batizado três vezes

É triste, mas é verdade. O pobre menino foi batizado três vezes! Quem sabe lá se não foi por isso que ele se tornou mais tarde um sujeito tão levado da breca?
Seja como for, a verdade é que o pequeno Pedro, embora três vezes batizado, nasceu uma vez só como toda gente.
Como a localidade onde ele nasceu era tão pequena que não possuía igreja, foi preciso batizar o menino em numa cidade vizinha, que tinha igreja e o pastor.
O pastor realizou uma cerimônia de batismo muito bonita. Verdade é que a mãe de Pedro ficou na cama, pois não se sentia bem. Mas a verdade é também que as outras senhoras que tinham ido juntas à igreja acharam tudo estupendo, embora o pequeno Pedro berrasse a não poder mais, como um cabrito. Foi esse o primeiro batismo de Pedro Malasartes.
Depois da cerimônia, todos se dirigiram ao botequim. Primeiro, por terem sido convidados para isso pelo pai de Pedro, e, em segundo lugar, por sentirem sede, como sempre acontece nessas ocasiões.
Havia bebida à vontade. Muitos puseram-se a fazer discursos. E a parteira, que carregara o bebê, bem embrulhado, e que também o segurara sobre a pia batismal, era quem sentia mais sede e quem mais bebia. Ora, quando partiram à tardinha para o lugarejo onde moravam, estavam todos um tanto atordoados. A parteira também, naturalmente. E quando tiveram de atravessar uma pontezinha sobre o riacho, ela sentiu uma tontura e caiu – vejam só! – caiu da ponte para dentro do riacho e levou consigo o pequeno Pedro, bem embrulhadinho como estava. Foi esse o segundo batismo do fedelho.
Nada aconteceu de grave a qualquer dos dois. Ficaram apenas muito sujos, pois, sendo pleno verão as águas do riacho estavam baixas e escuras de lodo.
O pequeno Pedro pôs-se a gritar como se estivesse atravessado por um espeto. Ficou tão sujo que pouco faltou para perder o ar. Quando chegaram à sua cidade natal, meteram-no logo na banheira e despejaram para cima dele tanta água que voltou a ter aspecto decente. Esse foi, por assim dizer, seu terceiro batismo.
O pastor, ao saber da história, no dia seguinte, sacudiu a cabeça com seus cabelos brancos, e disse: - Contanto que o rapaz se saia bem disso tudo... Nenhuma criança agüenta ser batizada três vezes! O que é fora do normal é exagero! Esta afirmação do pastor mostrou, mais tarde, que ele, realmente, estava com a razão.

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